Diébédo Francis Kéré

Diébédo Francis Kéré nasceu em Gando, Burkina Faso, primeiro filho do chefe de sua vila, porém se formou em arquitetura pela Technische Universität em Berlim, na Alemanha. Após alguns trabalhos como carpinteiro em seu país natal, Diébédo foi o primeiro habitante de Gando à se formar em um curso superior. Talvez essa dificuldade tenha ajudado a consolidação de sua vertente arquitetônica, e a sua preocupação com o desenvolvimento de projetos simples e na sua maioria voltados para a educação. Em 1998 fundou a organização "Tijolos para as Escolas de Gando" , onde angariava fundos para a construção de suas escolas.

Furuto , Alison . "Architect Diébédo Francis Kéré Awarded UWM’s Marcus Prize" 06 Jul 2011. ArchDaily. Accessed 27 Sep 2012. <http://www.archdaily.com/147544>

Escola Primária - Gando - Burkina Faso - 2001

Este projeto foi concebido em 1999 e foi o primeiro edifício do arquiteto, concluído enquanto ainda estudava na universidade. O projeto desta escola ganhou o prêmio Aga Khan de arquitetura em 2004, tornando o arquiteto conhecido mundialmente. O projeto foi baseado nos princípios do conforto climático com baixo custo de construção, fazendo o uso máximo de materiais locais e do potencial da comunidade local, e adaptar a tecnologia do mundo industrializado de forma simples. Também foi concebido como um exemplo para sensibilizar a comunidade local sobre os méritos das tradicionais técnicas construtivas. O clima em grande parte foi determinado pela forma do edifício e pelos materiais. Três classes são dispostas de modo linear e separadas por áreas exteriores cobertas que podem ser usadas para o ensino e produção. A estrutura compreende tradicionais paredes estruturais feitos de blocos comprimidos de terra. Vigas de concreto executadas em toda a largura do teto apoiando barras de aço e um forro de blocos comprimidos de terra. O Conforto climático é também assegurado pelo telhado suspenso de metal corrugado em uma treliça de aço, permitindo que o ar flua livremente entre o telhado e o teto, e através do uso de blocos de terra para o paredes, que absorvem o calor, moderando a temperatura ambiente.

A forma do telhado foi ditada por considerações de ordem prática: não era possível transportar grandes elementos para o local vindas de longe, nem economicamente viável usar gruas ou guindastes. Em vez disso, o arquiteto desenvolveu um processo através do qual as barras de aço de construção comuns foram usadas para criar treliças leves, com chapas de metal ondulado colocadas na parte superior de modo a formar o telhado. Tudo o que era necessário era ensinar as pessoas a usar um serrote e uma máquina de solda pequena. Todas as pessoas envolvidas na gestão do projeto eram nativos da vila, e as habilidades aprendidas foram aplicadas a outras iniciativas na aldeia e em outros lugares. A forma como a comunidade se organizou deu um exemplo para duas aldeias vizinhas, que, posteriormente, construíram suas próprias escolas em um esforço cooperativo. As autoridades locais também têm reconhecido o valor do projeto: não só eles têm prestado e pago para os professores, mas eles também têm se esforçado para empregar os jovens formados há em projetos públicos da cidade, usando as mesmas técnicas.

O maior desafio foi explicar o projeto e desenhos para as pessoas que não sabem ler nem escrever. Este problema acompanha o arquiteto o tempo todo em Burkina Faso.

Em um primeiro olhar do projeto, podemos questionar, porque ele está sendo tão premiado e reconhecido no mundo todo ? Mas um olhar mais atento, permite identificar ítens que caracterizam a arquitetura de Diébédo Kéré, como um modelo importante da arquitetura contemporânea:

A conjugação harmoniosa de técnicas tradicionais simples com as técnicas mais modernas;
O uso de materiais de baixo custo e técnicas artesanais locais;
A adaptação de uma arquitetura tradicional na construção de uma volumetria autêntica;
O uso de técnicas sustentáveis, construindo ambientes com conforto térmico e lumínico adequados;
O envolvimento da comunidade local na tomada de decisões e na construção das edificações;

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Extensão da Escola de Gando, Burkina Faso - 2008

Três anos após a abertura, a Escola Primária conta com mais de 280 alunos de Gando e suas aldeias vizinhas. Isso fez com que uma extensão se tornasse obrigatória. O projeto é baseado nas mesmas ideias climáticas como do primeiro edifício, mas usando outra expressão formal. Em vez de teto plano, há um teto em forma de abóbada feita de tijolos BTC.

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Habitação de professores em Gando - Burkina Faso - 2010

Este aglomerado de construções fornece habitação para os professores do ensino primário, na pequena aldeia de Gando. Seis casas espalhadas em um amplo arco com um ponto de chegada compartilhada, marcam o limite sul do terreno da escola. Três tipos de habitação, cada uma baseada em um módulo tão grande como numa cabana tradicional redonda, são combinados de várias maneiras para formar um conjunto complexo. Os desenhos são simples e com uso de poucos materiais, para que possam ser construídas e adaptadas para as habitações dos aldeões. A tecnologia utilizada nas casas é nova na região, climaticamente eficiente e faz pleno uso dos recursos locais. Nenhuma madeira ou aço foram utilizados. Cada unidade habitacional é constituída por três paredes paralelas feitas de tijolos de terra estabilizados, que suportam blocos de terra compactados, criando um apoio para as coberturas de concreto reforçado. As paredes grossas de 400 milímetros estão implantadas em bases de granito e concreto, que impedem que a entrada da umidade pelo piso.

Uma viga no topo da parede absorve as cargas da abóbada. As coberturas são construídas a duas alturas diferentes. A intersecção dos dois forma uma abertura em forma de foice, permitindo a entrada de luz para o interior. As projeções dos telhados também protegem as paredes contra a erosão e a penetração da humidade, enquanto os canais formados na parte superior e nas extremidades das paredes permitem o escoamento da água. O projeto habitacional continua os princípios do desenvolvimento sustentável e as tecnologias estabelecidas no prédio da escola. Os moradores ajudaram na produção dos materiais de construção.

Em torno de 15 mil tijolos foram produzidos - de 600 à 1.000 por dia pelos aldeões, enquanto o clímax do trabalho de construção foi o calçamento dos pisos de argila para criar uma superfície lisa e homogénea.

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Escola Secundária - Gando - Burkina Faso - 2012

Em 2012, Diébédo Francis Kéré conquistou a medalha de ouro internacional na premiação Holcim Awards, com seu projeto para Escola de Ensino Secundário em Gando. O projeto de arquitetura da escola, em um dos países mais pobres do mundo, teve como objetivo fornecer educação para os moradores de uma área rural. Gando, com uma população de 3000 habitantes, não tem escolas de ensino secundário e fica localizado sobre as planícies do sul de Burkina Faso, 200 km da capital Uagadugu. Com uma taxa de analfabetismo de mais de 90% das mulheres e 80% dos homens, a maioria de sua população não tem outra alternativa do que sobreviver da agricultura. O projeto leva em consideração as desafiadoras condições meteorológicas, onde as temperaturas de verão podem chegar à 40°C. O efeito de arrefecimento através da ventilação natural é potencializado através do encaminhamento de ar através de tubos subterrâneos, com a plantação de vegetação, e o uso de peles duplas nos telhados e nas fachadas para alcançar uma redução térmica de 5°C. As melhores condições interiores são favoráveis à educação.

A escola secundária em Gando visa fortalecer as oportunidades educacionais em Burkina Faso. Após a construção da escola primária em 2001 e sua extensão em 2008, onde mais de 700 crianças são educadas, simultaneamente, a escola secundária dá acesso aos jovens ao ensino superior. O conceito desenvolvido de baixo custo e de baixa tecnologia climática é mantida tão simples quanto possível para evitar uma manutenção intensiva. A estrutura do complexo de edifícios é desenvolvida no contexto rural dos compostos tradicionais em Burkina Faso. As estruturas arredondadas dos compostos são incorporados no campo, protegendo do vento empoeirado e quente do Oriente, mas aberto para a brisa fresca que vem do Ocidente. Este conhecimento tradicional de uso de energia eólica para a ventilação natural foi o modelo para o projeto.

O principal material construtivo utilizado neste projeto foi a pedra laterita, nativa da região. O edifício foi implantado na orientação leste-oeste, que reduz a radiação solar direta sobre as paredes, e as próprias paredes são adicionalmente sombreadas por meio de um telhado com balanços muito acentuados. O edifício é composto por três salas de aula, além de uma sala de computador que está ligado a um espaço de escritório. Existe também um anfiteatro com um tamanho correspondente ao de uma sala de aula. Este espaço é uma área de estar para uso durante o intervalo.

O forro suspenso permeável, o telhado ondulado inclinado, bem como as janelas totalmente sombreadas asseguram uma ventilação natural dos ambientes. Comparado com o método de construção convencional, onde seria necessário uso do ar-condicionado, esta é a solução mais sustentável. Isso se aplica especialmente para um país como Burkina Faso, que está em segundo lugar na lista de pobreza das Nações Unidas e que tem que importar toda energia consumida no pais. Outro aspecto deste trabalho é o fato de que todo o projeto foi realizado em cooperação com os jovens que já haviam sido treinados por meio de projetos anteriores.

O consumo de energia durante a construção e operação será reduzido a um mínimo usando somente o sol e o vento. A captação de água da chuva é integrada ao conceito da plantação e é usado para irrigar a vegetação existente. Graças à colaboração entusiasmada e o trabalho duro dos aldeões de Gando, a escola está em construção.

Há uma necessidade de escolas secundárias no país porque, no passado, apenas as escolas primárias foram apoiadas financeiramente por instituições estrangeiras e pelo governo de Burkina Faso. Através de programas educacionais para adultos e uma biblioteca pública, as escolas de Gando são abertas à comunidade, o que será mais eficaz do que os programas oficiais implementadas pelo governo.

Imagens do Projeto: 01 - 02 - 03 - 04 - 05 - 06 - 07 - 08 - 09 - 10

Para Diébédo o segundo objetivo dos projetos das escolas é criar uma plataforma de encontro, aprendizagem e ensino. A parte mais importante do projeto é o fato de que ele tem sido considerado como um bom modelo de trabalho comunitário em todo o país. Esse projeto tornou-se também um gerador de empregos para os jovens trabalhadores que foram treinados em técnicas de construção.

Todos os materiais construtivos utilizados no projeto são encontrados localmente: pedras de granito, madeira de eucalipto, argila. O eucalipto não é uma árvore local, seca o solo e não fornecer sombra. Um dos objectivos deste projeto é demonstrar a utilização sustentável dessa madeira.

Um dos conceitos de projeto é incentivar o reflorestamento, que se torna parte também uma das linhas educacionais. As árvores e gramíneas filtrar o ar da poeira e criam um espaço comunitário de melhor qualidade. Os alunos são responsáveis pelo crescimento das árvores recém-plantadas e a irrigação é feita através de um sistema especialmente concebido que leva a água directamente para a raiz. Este sistema é utilizado até que as raízes atingem uma profundidade suficiente para sobreviver somente com a água do solo.

A comunidade foi motivada devido a criação de novos empregos. As técnicas tradicionais de construção foram combinadas com novos conhecimentos. É de uma grande importância ensinar e treinar a população local nas novas técnicas a fim de manter a sua independência no processo de construção.

É visível neste projeto a evolução da arquitetura de Diébédo Francis Kéré se compararmos com seus projetos anteriores. Mesmo sem estar finalizado é possível verificar uma sofisticação nas soluções técnicas e nos detalhamentos, principalmente no que se refere à soluções de conforto ambiental e eficiência energética

http://www.kere-architecture.com